Secretário de Educação faz balanço do ano letivo de 2020 e apresenta novidades para o retorno dos estudos on-line na segunda (8) Renata ...
Secretário de Educação faz balanço do ano letivo de 2020 e apresenta novidades para o retorno dos estudos on-line na segunda (8)
Renata Moura, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto
Na próxima segunda-feira (8), cerca de 460 mil alunos da rede pública de ensino iniciam o ano letivo de 2021. Em função do agravamento da pandemia, as aulas remotas são a única opção para dar continuidade ao processo de aprendizagem dos estudantes. Para isso, o Governo do Distrito Federal investiu na reestruturação das escolas, adquiriu equipamentos e computadores, além de aplicar cerca de R$ 46,8 milhões por ano para oferecer um pacote de dados de acesso à internet tanto aos professores quanto aos estudantes de baixa renda.
Em entrevista à Agência Brasília, o secretário de Educação, Leandro Cruz, fala sobre como a pasta organiza a retomada das atividades nas escolas públicas. Ele ainda detalha os impactos do coronavírus no dia a dia da comunidade escolar e prevê a vinda de mais 31 mil novos estudantes, que migraram da rede particular.
Cruz conta que, no ano passado, o GDF beneficiou 106 mil famílias com o cartão alimentação – todas inscritas no Bolsa Família – e mais 23 mil com o cartão creche. “Só aí, aplicamos mais de R$ 123 milhões”, destaca. “A nossa expectativa é manter o modelo enquanto não acontecer a volta das aulas presenciais”.
O gestor também agradece o esforço dos profissionais para oferecer o melhor ensino, mesmo com as limitações impostas pela pandemia. “As aulas voltam nesse primeiro momento no modelo mediado por tecnologia, como foi no ano passado, e posso dizer que nossa rede deu, em 2020, uma grande demonstração de força, de vontade, de capacidade e de adaptação”, afirma.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
▍As aulas on-line serão retomadas na próxima semana. Como o governo se preparou para este novo ano letivo?
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Os nossos mais de 35 mil professores efetivos e mais os 10 mil professores temporários passaram esta última semana no que a gente chama de Encontro Pedagógico. É quando eles voltam das férias escolares e nos sentamos todos, dirigentes das escolas, coordenadores regionais de ensino, nós da gestão educacional, para o grande encontro de preparação do ano letivo. As aulas voltam nesse primeiro momento no modelo mediado por tecnologia, como foi no ano passado, e posso dizer que nossa rede deu, em 2020, uma grande demonstração de força, de vontade, de capacidade e de adaptação. Então, do ponto de vista pedagógico, estamos maduros para as aulas remotas. Ao mesmo tempo, a rede recebeu uma grande intervenção física ao longo do ano passado. Foram muitas melhorias nas escolas. Então, a infraestrutura da rede está muito melhor do que foi no passado, embora ainda precise de mais investimentos. O governo fez o dever de casa.
▍Para quem é aluno novo da rede, o senhor pode explicar como essas aulas remotas vão acontecer? Existe uma plataforma própria para as aulas? O estudante consegue interagir com o professor?
Vamos usar a plataforma Google Sala de Aula – Escola em Casa DF, como fizemos em 2020. É o mesmo modelo. A meu ver, ele funcionou a contento, dentro de um ambiente de incerteza como é o da pandemia. Lá, professor e estudante conseguem interagir com abordagem de conteúdos, atividades, exercícios, resolução de dúvidas. É a mesma coisa que se houvesse o contato presencial? Óbvio que não, mas há aprendizagem, e é isso que devemos buscar.
▍Temos um telefone ou outro canal para sanar dúvidas?
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Sim, temos o 156, a ouvidoria da Secretaria, que pode ser acessada também no nosso site – educacao.df.gov.br. Atenção, hein: não tem cedilha, nem til. As escolas têm os canais próprios, que as mantêm conectadas com as comunidades escolares, e-mail ou telefone, e essas informações também estão no nosso site.
▍No ano passado, aulas remotas apresentaram alguns problemas, principalmente em relação aos alunos de baixa renda, que não tinham acesso à internet rápida. Conseguimos solucionar essa questão?
Sim, conseguimos. Àqueles que não conseguiram conexão – isso aconteceu por vários motivos –, nós entregamos material impresso. O mesmo conteúdo oferecido pelo professor a quem estava conectado foi impresso e entregue ao estudante. Neste ano, como estamos num período muito difícil da pandemia, onde for preciso, nós orientamos as coordenações regionais e as escolas a contratarem motoboys para entregar o material impresso na casa do estudante. Ele não deve ser chamado presencialmente à escola ou à coordenação regional de ensino para pegar o material.
▍E as aulas com transmissão pela TV? Neste ano teremos essa modalidade?
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Tivemos em 2020 uma experiência com a TV Justiça. Eu considero que foi uma boa ideia, uma boa tentativa de fazer o conteúdo chegar até os estudantes, num momento em que eles não podiam ir até a escola. Talvez o modelo, o projeto, eu não posso avaliar detalhadamente, mas houve tantos problemas, que resolveram abandonar aquela iniciativa. Eu acho que a transmissão de aulas pela TV, ainda mais se estiver relacionada à interatividade por outros meios, é uma ação educacional extraordinária. Não quero adiantar nada, mas pode ser que surja um projeto mais estruturado a esse respeito no futuro.
▍Quais os investimentos do GDF com tecnologia para viabilizar essas aulas remotas?
As aulas remotas foram viabilizadas basicamente com uma plataforma Google, que não gerou custo algum, porque a versão Escola em Casa DF foi desenvolvida gratuitamente. E, para acessá-la, aí sim, a Secretaria de Educação investiu em acesso à internet, basicamente. Adquirimos pacotes de dados junto às três grandes companhias telefônicas para oferecer acesso tanto aos professores quanto aos estudantes, e isso está estimado em R$ 46,8 milhões para o ano.
▍A expectativa do ano passado de ter mais alunos da rede particular migrando para a rede pública se concretizou?
Eu ia responder sim e não, mas acho que o mais certo seria não e sim. Porque se dizia que em 2020 haveria um aumento gigantesco no número de matrículas novas, pretensamente vindas das escolas privadas, já que os pais perderiam renda e transfeririam seus filhos para a rede pública. O fato é que o número de novas inscrições caiu de 38 mil, em 2019, para 31 mil em 2020. Eu falo em “inscrições” porque nem todos os que se inscrevem confirmam a matrícula. Então, o número efetivo de novas matrículas ainda precisa esperar um pouquinho para ser conhecido. Agora, de toda forma, 31 mil novas inscrições é bastante gente. Então, o tal aumento não se concretizou, mas chegou um contingente considerável de estudantes para se somar à nossa comunidade escolar.
▍Muitos desses alunos carentes buscam na escola um local para se alimentar. Com as aulas remotas, a distribuição de cestas verdes e outros alimentos continua sendo ofertada pelo GDF? Qual a expectativa de atendimento?
Essa foi uma das iniciativas do GDF: fornecer alimento para os estudantes. Não só com as cestas verdes, mas com o cartão alimentação e com o cartão alimentação creche. As famílias receberam dinheiro para comprar comida, já que seus filhos estavam sem a merenda escolar. Foram 106 mil famílias beneficiadas pelo cartão alimentação – todas inscritas no Bolsa Família – e mais 23 mil famílias beneficiadas pelo cartão creche. Só aí, aplicamos mais de R$ 123 milhões. A nossa expectativa é manter o modelo enquanto não acontecer a volta das aulas presenciais.
▍O senhor já declarou que o GDF só deve liberar aulas presenciais depois de uma vacinação mais expressiva da população. Já temos ideia de quando isso será possível?
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Olha, é muito boa a pergunta, porque é preciso que as pessoas entendam: voltar às aulas presenciais da rede pública é botar em circulação aproximadamente 550 mil pessoas, dentro de ônibus, num movimento social frenético e diário. Em outras palavras: é acelerar a pandemia, fazendo com que o vírus circule mais rápido, infectando mais pessoas. Não estou falando só dos professores, assistentes, auxiliares, merendeiras e alunos. Estou falando dos pais e avós, das redes de contato familiar, dos vizinhos. Então, é um assunto de saúde coletiva. As pessoas estão pensando em seu caso particular. “Ah, eu não tenho com quem deixar o meu filho então, a escola tem que abrir”. Daí a gente abre e duas, três semanas depois, estão os hospitais lotados, as UTIs lotadas, pessoas morrendo. Olha, eu posso falar porque tive covid, fui pra UTI e quase morri: não brinquem com essa doença.
▍Como o senhor avalia o ano de 2020 para a educação pública do DF? As alternativas encontradas foram suficientes para tornar menores os impactos do distanciamento?
Eu tenho absoluta certeza que sim. Aqui foi feito tudo o que poderia ter sido feito para reduzir os danos aos estudantes. As pessoas acham que houve férias de um ano em 2020, mas não é nada disso. As aulas aconteceram, os professores estavam lá, os estudantes estavam lá e nós funcionamos até 28 de janeiro, para conseguir minimizar as perdas de aulas entre março e julho. Houve impacto? É claro que houve. Estudar em casa na frente de um computador ou pelo celular é muito diferente de estar na escola, perto dos amigos, em frente ao professor. Mas aqui nos desdobramos. Se compararmos com outras unidades da Federação, não tenho dúvida que estamos entre as melhores respostas. Agora, como é certo que houve perda do ponto de vista pedagógico, neste ano, vamos lançar o Virando o Jogo na Educação. Aí sim, vamos recuperar e possibilitar melhores oportunidades de vida aos nossos estudantes.
▍A secretaria tem feito avaliações sistemáticas para acompanhar o desempenho dos alunos?
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Nós passamos a orientação para que as avaliações fossem feitas pelo professor e que as deliberações coletivas do conselho de classe fossem soberanas. A sistematização, no caso, foi a observância quanto à participação dos estudantes nas aulas on-line ao longo do ano. Como servidores da educação pública, é imprescindível que a gente leve em consideração o contexto social ao avaliar cada estudante. Sempre! Salientamos junto aos nossos professores que, especialmente em um contexto de pandemia, as expectativas de aprendizagem do ensino mediado por tecnologia não podem ser as mesmas do ensino presencial, devido a diversos fatores. Do contrário, o que deveríamos fazer? Reprovar todos os alunos e aprofundar o problema da defasagem escolar? Claro que não! E aposto que a mesma coisa aconteceu nas escolas privadas.
▍Os livros didáticos para o ano letivo serão eletrônicos? Ou os estudantes vão buscá-los nas escolas?
A rede pública de ensino do Distrito Federal, assim como todas as demais do país, é beneficiária do Programa Nacional do Livro e do Material Didático [PNLD], programa do governo federal, que disponibiliza livros didáticos impressos. Não há nenhuma sinalização do governo federal, ainda que haja debates, sobre uma “versão digital” do PNLD. Nesse sentido, será necessário, tomando todas as medidas de segurança necessárias, que os estudantes busquem os livros didáticos nas escolas para compor seu material pedagógico.
▍Quanto o governo vai liberar de recursos para o cartão material escolar? Quantas pessoas serão beneficiadas e qual a previsão de liberação desses recursos?
A liberação começou nesta sexta-feira (5). Os primeiros créditos beneficiam quase 60 mil estudantes, que são aqueles cujas famílias estão cadastradas no Bolsa Família – são aproximadamente 38 mil famílias. Se ele é da educação infantil ou do ensino fundamental, o valor é de R$ 320 por estudante. Se ele é do ensino médio, o valor é R$ 240 por estudante. Neste ano, aumentamos o número de itens que podem ser adquiridos com o cartão em todas as etapas do ensino básico. Ao todo, neste primeiro lote, creditamos nos cartões uma soma de R$ 18,3 milhões.
Fonte: Renata Moura, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto