O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse na noite desta quarta-feira (4) que "a esperança é a última que morre" ao comentar...
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse na noite desta
quarta-feira (4) que "a esperança é a última que morre" ao comentar a
eleição presidencial nos Estados Unidos. O mandatário torce pela reeleição do
republicano Donald Trump. A apuração dos votos nos EUA na noite desta quarta,
porém, indica vantagem do democrata Joe Biden.
Bolsonaro deu a declaração em frente ao Palácio da Alvorada, onde parou
para falar com um grupo de apoiadores.
O presidente comentou o pleito norte-americano após uma apoiadora
elogiá-lo e perguntar "o que seria de nós sem o senhor e o Trump".
"A gente está aqui com o coração na mão com o que está acontecendo nos
Estados Unidos", disse a mulher.
Em resposta, Bolsonaro afirmou: "a esperança é a última que
morre".
Questionado novamente no final do encontro por outro apoiador sobre as
eleições nos EUA, o chefe do Executivo adotou tom cauteloso. "Parece que
foi judicializado o negócio lá num estado ou outro. Tem que esperar um
pouquinho", disse o presidente.
A campanha de Trump entrou com uma ação judicial no estado Michigan para
tentar suspender a contagem até que pudessem checar a abertura e o
processamento dos votos que chegaram pelo correio. A imprensa americana já
apontou vitória de Joe Biden no estado.
Com a vitória em Michigan, Biden foi a 253 votos e ficou a um estado de
distância de ser o próximo presidente dos Estados Unidos.
No encontro com apoiadores nesta noite, Bolsonaro voltou a defender o
uso da hidroxicloroquina para tratar o coronavírus.
O presidente também evitou se comprometer com pedidos para apoiar
candidatos ou comentar as eleições municipais. "Tenho apoiado
discretamente em São Paulo, Rio, meia dúzia de capital", disse.
Mais cedo, também na frente do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltara a
dizer que torce pelo republicano Donald Trump.
Ele ainda criticou o democrata Joe Biden. Bolsonaro negou interferir no
pleito americano e acusou o ex-vice de Barack Obama justamente de interferência
em assuntos internos do Brasil por criticar a política ambiental do governo
brasileiro.
"Só [para] complementar aqui: o candidato democrata, em duas
oportunidades, falou sobre a Amazônia. É isso que estamos querendo para o
Brasil? Aí, sim, uma interferência de fora para dentro", disse o
presidente a apoiadores, em declarações transmitidas por um site bolsonarista.
Durante o primeiro e caótico debate presidencial nos EUA, Biden, ao se
referir à Amazônia, disse que "a floresta tropical no Brasil está sendo
destruída".
À época, Bolsonaro classificou a fala como lamentável. O líder
brasileiro reafirmou que tem uma "opinião clara" sobre a eleição
americana, que conserva boa relação política com Trump e que espera a reeleição
do republicano.
"O Brasil vai continuar sendo o Brasil. Sem interferir em nada, até
porque quem somos nós para interferir?", disse ele.
"E esse bom relacionamento, coisa que não havia em governos anteriores.
Tirando o [ex-presidente Michel] Temer [MDB], em governos anteriores não havia
esse bom relacionamento. E tem gente incomodada com isso, acham que eu deveria
ser inimigo dos Estados Unidos ou criticar o governo americano e elogiar
Venezuela, Cuba e outros países que não têm nada de exemplo para nós aqui na
América do Sul."
Bolsonaro tem sido aconselhado por auxiliares a se manter distante das
eleições americanas, uma vez que o resultado eleitoral no momento é considerado
imprevisível.
Em outra frente, assessores palacianos aconselharam Bolsonaro a não se
manifestar sobre uma eventual judicialização do pleito nos EUA, diante das
ameaças do próprio Trump e de notícias de que os republicanos pediriam uma
recontagem em Wisconsin.
Embora haja dúvidas sobre a viabilidade de uma guerra jurídica pelo
pleito, um processo poderia se arrastar por semanas.
Nesse caso, Bolsonaro foi advertido que qualquer fala endossando as
acusações de Trump de que os democratas estariam fraudando votos teria graves
consequências para o relacionamento futuro do Brasil com os EUA caso Biden
termine a luta nos tribunais como o vencedor.
Se desejos pela reeleição de Trump já repercutem mal entre democratas,
um apoio à tese de Trump de que a eleição estaria "sendo roubada"
seria tratado como uma ofensa de outras proporções, segundo diplomatas ouvidos
pela reportagem.
Apesar do pedido de silêncio feito por assessores do presidente, o
deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez publicações nas redes sugerindo que
irregularidades estariam beneficiando Biden.
Filho do presidente, Eduardo é um dos expoentes da ala ideológica do
governo e tem na política externa seu principal campo de atuação.
Eduardo republicou uma mensagem de um blogueiro afirmando ter existido
fraude. Na publicação, o filho do presidente escreveu apenas
"estranho".
Assessores de Bolsonaro reconhecem reservadamente que Biden se
consolidou nesta quarta como o favorito no pleito.
POR FOLHAPRESS