O anúncio de João Doria (PSDB-SP) de que pretende iniciar a vacinação em janeiro, antes dos demais estados, irritou alguns governadores pres...
O anúncio de João Doria (PSDB-SP) de que pretende iniciar a vacinação em
janeiro, antes dos demais estados, irritou alguns governadores presentes na
reunião desta terça (8). Eles se encontraram com o ministro Eduardo Pazuello
(Saúde) para discutir o calendário de vacinação contra a Covid-19.
Para presentes, Doria agiu com "arrogância" no encontro, ao impor sua fala antes dos demais e a estabelecer, sem diálogo, a vacinação em 25 de janeiro.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), reagiu. Outros líderes, como
Camilo Santana (PT-CE), Renato Casagrande (PSB-ES) e Eduardo Leite (PSDB-RS),
também demonstraram insatisfação.
"O Ministério da Saúde não pode abrir espaço para nenhum estado querer se
arvorar na frente de outro", disse Caiado.
"Não posso admitir que um prefeito do meu estado tenha sido convidado para
se cadastrar no governo de São Paulo para receber a vacina. Como pode São Paulo
dizer que em 25 de janeiro inicia a vacinação e que quem for para São Paulo vai
ser vacinado? Isso é um constrangimento para nós, governadores. Nós por acaso
somos incompetentes? Essa situação é prerrogativa do Ministério da Saúde",
queixou-se o líder de Goiás.
Para Caiado, Rio e São Paulo não podem correr na frente dos demais porque têm
laboratórios em seus territórios.
"Eu não posso admitir que amanhã o governador do Rio diga que vai segurar
a vacina da Fiocruz para os cariocas", afirmou.
Caiado, assim como governadores de estados menores, quer que o ministério se
comprometa em adquirir a primeira vacina que tenha a eficácia comprovada e
centralize a distribuição, para evitar que haja desigualdade no acesso ao
imunizante.
"A decisão é essa, a primeira [vacina] registrada o ministério vai comprar
e vai nos repassar. Nenhum estado tem prerrogativa de adquirir vacina para
poder imunizar os seus habitantes. Isso é prerrogativa nacional, e o ministério
vai adquirir e vai distribuir conforme os grupos de risco. É esse o critério ou
cada um vai para lá e para cá? Você vai no PI comprar? Vai no PA comprar? Isso
não pode, isso não existe", disse Caiado.
Pazuello, no entanto, demonstra hesitação, segundo governadores.
Ao mesmo tempo em que enumerou as vacinas que o governo federal já se
comprometeu em comprar (Fiocruz/AstraZeneca, Covax Facility e Pfizer) e tenha dito
que a Anvisa não rejeitará a análise da Coronavac, o ministro não diz se
comprará toda a dosagem necessária para vacinar a população em 2021.
O temor é que estados mais pobres fiquem no fim da fila, adiando também sua
recuperação econômica.
A fala de Doria confrontando Pazuello também desagradou boa parte dos
presentes. Eduardo Leite (PSDB-RS) deu uma cutucada no colega.
Segundo um dos participantes, ele recomendou ao ministério melhorar sua comunicação, pois há alguns falando de menos sobre a vacinação enquanto há outros falando demais, aparentando fazer referência ao governador paulista.