Grávida de cinco meses, uma mulher de 32 anos sofreu agressões de dois policiais militares na cidade de Santa Bárbara, na região Central de ...
Grávida de cinco meses, uma mulher de 32 anos sofreu agressões de dois policiais militares na cidade de Santa Bárbara, na região Central de Minas. Um vídeo que mostra os agentes a derrubando ao chão, além dos vários socos que levou, começou a circular pelas redes sociais no domingo (24). O BHAZ conversou com um especialista em segurança pública a respeito do episódio. Para Robson Sávio, os policiais agiram de forma desproporcional com a gestante. Já a PM diz, por meio de nota (veja ao fim do texto), que a mulher “não aceitou e resistiu à condução”.
A mulher vista no vídeo, gravado por outro morador da cidade, é Shirley Carias. Ela e uma cunhada se desentenderam no sábado (23) pela tarde e a mulher acionou a polícia. Quando chegaram ao local, os policiais vistos no vídeo queriam levá-la para a delegacia. Shirley, no entanto, se recusou. Segundo ela, a cunhada recebeu permissão para ir ao posto em um Uber. Por conta disso, alegava querer o mesmo e ir em outro carro ao endereço.
“Eu não vou não, se ela não vier também aqui dentro [na viatura] eu não vou. Se ela não for aqui dentro comigo eu não vou, eu não sou pior do que ela”, diz a gestante em determinado momento. Depois, ela se afasta da viatura e os policiais a cercam. “Por favor, não põe a mão em mim”, grita, ao que um policial responde: “Então entra no carro. Como é que vai ser, vai entrar ou não vai?”.
Jogada ao chão e alvo de socos
Ainda no vídeo é possível ver que Shirley foi segurada pelos dois braços e que um dos policiais a atingiu com uma rasteira. A mulher cai ao chão e é erguida pelos dois, enquanto gritava para que não a tocassem. Ela tenta resistir, e um dos policiais deita a atinge com vários socos. Na sequência, o mesmo PM começa a chutá-la. “Não me chuta mais não!”, pede. As agressões terminam com a grávida algemada.
Na sequência, o vídeo ainda mostra a tentativa de um dos policiais de pegar o celular da pessoa responsável pelo registro. Ele olha em direção à câmera e diz que vai “precisar” do aparelho da testemunha, que sai correndo para esconder o telefone. Veja o vídeo completo da agressão:
‘Estou toda machucada’
Ontem (25), Shirley Carias gravou um relatado em que detalha como tudo ocorreu. O registro foi publicado pelo Diário de Santa Bárbara, no Instagram. Segundo a gestante, a cunhada apareceu e a provocou para que brigassem. Ela teria revidado e a mulher acionou a PM. “Foi quando ela chamou a polícia, vieram esses dois policiais. E o mesmo direito que ela tinha de ir de Uber, por que é que eu tinha que ir no carro da polícia?”, questiona.
Ainda segundo a grávida, o questionamento a respeito da forma como iria para a delegacia foi o único feito por ela. “Eles bateram em mim, fizeram aquela covardia toda comigo que vocês viram, estou toda machucada, tenho que mostrar todas as marcas né, todas as cicatrizes, porque estão muito feias, o meu rosto está todo machucado, estou com cicatrizes por todo lado do corpo, sou gestante, estou com 21 semanas”, diz nas imagens.
‘Estou toda machucada’
Ontem (25), Shirley Carias gravou um relatado em que detalha como tudo ocorreu. O registro foi publicado pelo Diário de Santa Bárbara, no Instagram. Segundo a gestante, a cunhada apareceu e a provocou para que brigassem. Ela teria revidado e a mulher acionou a PM. “Foi quando ela chamou a polícia, vieram esses dois policiais. E o mesmo direito que ela tinha de ir de Uber, por que é que eu tinha que ir no carro da polícia?”, questiona.
Ainda segundo a grávida, o questionamento a respeito da forma como iria para a delegacia foi o único feito por ela. “Eles bateram em mim, fizeram aquela covardia toda comigo que vocês viram, estou toda machucada, tenho que mostrar todas as marcas né, todas as cicatrizes, porque estão muito feias, o meu rosto está todo machucado, estou com cicatrizes por todo lado do corpo, sou gestante, estou com 21 semanas”, diz nas imagens.
Medo da polícia
No relato, a grávida ainda diz que os policiais não autorizaram que os médicos a atendessem direito, quando foi levada à unidade de saúde. Ela diz temer pela própria vida por conta da repercussão do caso. “Eu estou com medo deles se revidarem contra mim também, por eu ser uma mulher e não ter defesa”, narra.
“Eu estou me sentindo ‘covardeada’, e não quero que cobrem por mim não, quero que cobrem pelo bebê que está na minha barriga, porque se tivesse acontecido alguma coisa com o meu filho nesse momento eu poderia nem estar aqui. Eu sou mãe de três filhos, e meus três filhos assistiram toda a covardia que eles fizeram comigo”, disse em outro trecho.
Mais agressões
As denuncias de agressões por parte de policiais militares não partiram apenas de Shirley. Depois de ter acesso às imagens, a esteticista Gabriela Ramos usou o Facebook para demonstrar indignação pelo tratamento dado à gestante. Gabriela, 32, já contratou serviços de limpeza de Shirley e se sensibilizou com a situação. Depois, no entanto, teria sido agredida e ameaçada por outros integrantes da Polícia Militar.
“Dois despreparados para o trabalho deles, dois fanfarrões, que é isso que vocês dois são, dois fanfarrões sem vergonha. Eu gostaria de ver se vocês têm a capacidade de fazer isso com um homem. Acho um absurdo fazer uma coisa dessas com uma mulher”, disse Gabriela Ramos em um vídeo postado na rede social. “No momento que pegaram os dois para jogar uma mulher no chão porque ela é negra, ela mora num bairro simples e ela não calou para vocês”, destacou.
Gabriela Ramos postou o vídeo expondo o incômodo pelas agressões sofridas por Shirley por volta das 15h. Ao BHAZ, a esteticista contou que, na noite do domingo, alguns policiais militares foram até a casa dela e a abordaram. Segundo relata, a equipe policial, que contava com a presença de uma mulher, a agrediu e a humilhou na própria residência.
‘Me socou na parede três vezes’
“Eles chegaram na minha casa me dando voz de prisão, me agredindo, a policial Letícia me socou na parede três vezes, eu estava seminua, ela deu buscas em mim, a gente está até agora sem entender o motivo das buscas. Ela chegou a me machucar, machucou meu joelho, machucou meu pé, as minhas costas deram uma esfolada boa, a minha vagina machucou porque ela pegou com muita força e chutou”, relata Gabriela Ramos.
A esteticista também contou que a mãe dela, que faz tratamento contra um câncer, presenciou a cena e chegou a desmaiar. Segundo a mulher, a equipe policial não deu a mínima. “A minha mãe chegou até a desmaiar, estávamos só eu e minha mãe, em momento nenhum ligaram para ela estar desmaiada. A Letícia falou que minha mãe estava fazendo show”, lembra ao se referir à policial. Antes de ser detida, Gabriela conseguiu ligar para o pai, que foi até a residência socorrer a mãe dela.
Gabriela foi algemada e levada ao quartel de Santa Bárbara e logo depois para a Delegacia de Itabira. “Quando cheguei em Itabira o delegado não me ouviu, pediu o escrivão apenas para devolver meu celular e registraram crime de calúnia e difamação e desacato à autoridade, tudo pelo vídeo, eles vão encaminhar para a Justiça”.
A esteticista contou que saiu da delegacia por volta das 4h, e que está com medo. “Eu estou morrendo de medo de eles me assassinarem, ou de fazerem alguma coisa com a minha mãe, ou com meu filho ou com meu pai. Às vezes podem me atropelar, e daí fingir, por que eles são muito ruins. Eu estou com medo e quero deixar bem claro que caso aconteça algo comigo, se eu sumir ou alguma coisa, vão em cima dos policiais”, pede. Apesar das agressões, a esteticista disse que não vai parar de apoiar Shirley.
Despreparo e abuso de autoridade
O BHAZ conversou sobre o caso de Shirley Carias e de Gabriela Rocha com o associado sênior do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) Robson Sávio. O especialista em direitos humanos explica que a abordagem dos policiais contra a gestante ocorreu sem nenhuma técnica, já que “a abordagem policial só pode ser feita com uma reação proporcional à uma ação”.
“O boom desse caso mostra uma dupla de policiais totalmente despreparada, violenta, que não agiu nem na técnica e nem na proporcionalidade, e que agiu assim certamente porque achou que poderia bater numa mulher desarmada e não ia acontecer nada, como acontece milhares de vezes com pobres e pretos nas periferias”, aponta Sávio.
Quanto ao caso de Gabriela Ramos, o especialista diz que a abordagem claramente se configura como abuso de autoridade. “Essa pessoa deve formalizar uma queixa junto à Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público, que é responsável pelo controle da atividade policial, e abrir um processo criminal contra os policiais, exigindo inclusive reparação e indenizações em relação aos policiais”, orienta.
“Eu acho que as pessoas não devem se intimidar frente a isso, porque esse tipo de instituição de policiais contam justamente com o medo das pessoas para continuar usando e abusando da violência”, diz o especialista. Segundo Robson Sávio, “as normas internacionais do uso da força, que são determinadas pela ONU, e todos os países democráticos ratificam, determinam que o uso da força policial sempre deve ser legítimo, legal e proporcional”.
O que diz a PM?
Procurada pelo BHAZ a respeito da abordagem contra a grávida, o 26º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela área, se limitou a informar que a gestante “não aceitou e resistiu à condução” e que os militares “usaram técnicas de contenção na prisão da autora, a qual fora projetada ao solo e imobilizada”, explica em um trecho da nota (veja na íntegra abaixo).
Nota da PM na íntegra
Na tarde desse sábado (23/01), a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência de agressão e ameaça, em um bairro residencial no município de Santa Barbara. No local dos fatos, a autora foi localizada sendo necessária sua condução para o devido registro dos fatos, momento em que a mulher não aceitou e resistiu à condução. Os militares então usaram técnicas de contenção na prisão da autora, a qual fora projetada ao solo e imobilizada. O 26º BPM, esclarece que foi confeccionado boletim de ocorrência que contém as ações policiais, mesmo não havendo reclamação formal na unidade da Polícia Militar sobre a citada intervenção.
Por Bhaz